domingo, março 08, 2020

Faixas transversais

Vinícius cruzou a rua sem olhar. De repente encontrou, num instante muito rápido, a pessoa que vinha em sua direção.

Era Fabiana. Fabi, Fofinha, a falsidade em pessoa, o fim da felicidade de seu falo quando finalmente filou, em plenas férias em Florianópolis, a fugaz foda que tanto faria falta mais pra frente.

Depois daquela noite maravilhosa, quando todas as estrelas se alinharam na pousada de frente para o mar e proporcionaram a melhor química do mundo, nenhum dos dois tinha trocado uma única palavra.

Agora ela estava ali, a três linhas de distância na faixa de pedestres, se aproximando da gosma derretida que ele virou.

Quando Fabi o percebeu, parou. Fincou os pés com tanta força no asfalto que estragou o conserto malfeito do buraco recém-tapado. Abriu-se a cratera que estava ali semana passada, dentro da qual ela caiu.

Vinícius, apenas gosma derretida, tremia em sua consistência. Pouco a pouco escorreu para as profundezas daquele buraco na faixa de pedestres.

Na escuridão subterrânea da cidade, pontilhada pelas luzes que ultrapassavam os bueiros, os dois poderiam, com mais privacidade, se encontrar enfim, para o que quer que fosse, depois de tanto tempo separados. Até aquele momento Vinícius e Fabi se imaginavam muito longe um do outro, ainda que todo dia seus caminhos se cruzassem, sem saber, ao atravessar aquela mesma faixa de pedestres.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Espaço abaixo: Pra quem leu o post e tem qualquer coisa a dizer. Deixe também o email ou site.