-Ora essa, arruinaram-se suas falas?
‘Atrevida’, Romeu pensou.
Julieta estava de pé a sua frente, um bosque escuro e úmido em volta. Noite fria e escura. Ele estava porcamente caído na grama, abraçado com paixão boêmia a uma caixa de absinto. Aterrorizado! De onde surgira aquele poder, aquela força, aquele sorriso que ele nunca imaginara em mulher nenhuma? Indescritível o quanto ele se sentia atraído a ela.
Ele observava os dedos finos, as unhas pontiagudas. Ela possuía cinco pequenos punhais em cada mão! Correndo pelo tecido nobre, um vestido puro e agora imundo da caminhada pela floresta e de suas intenções.
Ela tirou da primeira casa o primeiro botão.
-Serei eu quem começará nosso duelo de mentiras?
Segundo botão;
-Romeu, seu tolo, meu tolo.
Os botões, para infelicidade dele, iam do pescoço lindo até a cintura fina. Com apenas a luz do luar aos dois, ele pensava em dez, quinze gordos botões prendendo aquela inocência.
-Finja mais um pouco que suas promessas sussurradas ainda me manterão presa, daquele jeito fácil de antes.
Terceiro botão;
-Quem sabe um copo dessa sujeira que você tanto ama o faça mais esperto, uma vez na vida.
Quarto botão. Ela riu;
-Você sempre guardou essas garrafas com mais vontade do que o meu coração, e ele ainda sangrava quando eu o entreguei a você...
Quinto botão;
-Faça-me assistir a mais um milhão de pores-do-sol, me engane com seus olhares, e não me deixe nunca fugir desse sonho.
Sexto botão. A pele de seu colo, branco, já aparecia claramente.
-Esconda de novo e de todos que as suas vontades são de mim. Suspire o tempo todo, minta a cada lufada de ar que consumir.
Sétimo botão. Este foi o mais difícil para ela.
-Seja enfim o homem que você diz que eu mereço...
Um puxão acabou com os remanescentes. Agora Julieta também parecia sem escolha, intensamente próxima a ele. Sacudiu os braços. Vestido ao chão.
-... para que eu possa ser enfim a mulher que você não merece.