terça-feira, dezembro 31, 2019

Mãos ao alto

Estou guardando uma lesão no polegar direito. É uma dor de segurar qualquer coisa, um lápis, mouse, escova de cabelo. Se a mão está em repouso, aberta, tudo bem. Qualquer movimento e eu agarro a dor no ar, sem falta.

Eu sei que tem sim algo trincado nos ossinhos, algo que não vai se arrumar sem a devida imobilização. Já decidi que quando eu precisar de descanso, quando não der conta nem de pedir as contas, vou fugir para o pronto-socorro no horário de pico com o laptop debaixo do braço. O tempo de espera para ser atendida e examinada servirá para me trazer paz.

De repente, quando achei que a vida tinha se tornado realmente intolerável, e a necessidade de aguardar o atendimento seria impossível de ignorar, a dor pulou de uma mão para a outra. Da destra necessária, imprescindível, fugiu para a canhota inútil, boba. E agora?

Engessar a outra mão não funciona como desculpa para abdicar do dia a dia profissional, e deve me prejudicar apenas 50% em âmbito privado: lavar o cabelo, usar talheres, dirigir, perderei a independência sem perder a utilidade. E os meus chefes com isso? Contanto que a minha mão apta esteja disponível, pode vir só ela mesma, serrada na altura do pulso, para discar o telefone, copiar um documento, arrumar as gavetas. Todo o resto em dor, quebrado, destruído, não importa; basta que a ferramenta de trabalho tenha vontade de corresponder ao script combinado.

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