sábado, fevereiro 27, 2021

Eu & o álcool

 Hoje eu li que quando temos dúvida sobre fazer algo ou não, devemos pensar: o que eu faria se tivesse coragem?

Com o perdão do lugar comum, coragem para mim é líquida: é álcool. Minha força está em tomar drinques e latinhas um atrás da outra, de canudinho. É o que me faz baixar a guarda, acelerar as respostas, me afiar ao desconhecido quando eu tenho vontade. Meu apoio para insistir, levar a cabo, prolongar as consequências e pensar que não sou bem eu fazendo aquilo ali; sou eu, mas não sou tão eu assim.

Quase todas as vezes em que eu sai com alguém novo, eu estava bebendo. Quando estava junto mas não fazia sentido, eu virava mais uma garrafa para me acostumar. Ao precisar de um impulso, era um gole que me empurrava. Até cair, porque acho que o meu medo era não conseguir me derrubar sozinha. Eu queria mesmo era apagar tudo, e o álcool fazia isso por mim quando eu chegava à inconsciência.

Carregada, destruída, chegando em casa e perguntando quem dirigiu, quando fui eu que trouxe o carro, numa dor que eu seria incapaz de infligir a mim mesma se estivesse sóbria. Num estado de vergonha para os outros: vejam, é essa a vergonha que eu sinto de mim mesma a todo momento e vocês não enxergam.

É um padrão de consumo muito abusivo, que não chega a ser uma dependência física. Só psicológica, profunda, no limiar da humilhação. Uma coisa que eu não tenho coragem de parar, apesar de já ter feito por um ano, e com muito sucesso. Ai que raiva de mim mesma, de ter me apegado tanto a isso! É horrível, ao mesmo tempo em que é a melhor coisa que eu posso imaginar.

Na falta do álcool, eu fico com o pé atrás, pensando no que poderia ser feito se eu tivesse coragem de verdade. E não um rubor biológico, em mililitros que cobrem o medo de fracassar. O teor da minha ideia é que o fracasso é inerente: então prefiro que eu esteja totalmente à mercê da situação, quando não posso controlar nem a minha alegria, por ser tão grande, nem a minha dor, por não ser capaz de senti-la. E que eu navegue, sem lembrar muito bem por quais caminhos, usando tais indicações e atingindo certas pessoas, porque pelo menos estou em movimento.