terça-feira, julho 19, 2016

Pancada

Cada vez que o meu coração bate, é alguma coisa que está batendo pra sair. Às vezes amigavelmente, às vezes esmurrando. A batida na porta, toc toc nas costelas, aquilo que eu incansavelmente preciso externar.

A visita que quer ir para fora do meu peito, incomodada e envergonhada, vai se voltar para dentro e quebrar tudo se não for aberta a porta. Uma mísera fresta na janela não serve.

Tem algo ali sim, não é apenas um processo fisiológico. É a emoção que me domina e que eu quero gritar. Se ela não sair, eu morro.

sábado, abril 02, 2016

Só de passagem

-Está livre?

-Sim.

-Ufa. Andei muito para conseguir um táxi. Estão todos cheios! Vamos embora que ainda temos que atravessar toda essa muvuca de volta!

Pós show de rock no Anhembi, em São Paulo. Ela estava toda maquiada, parecia um fantasma de rosto branco e olhos fundos. Abriu a porta, acomodou-se atrás do motorista e afivelou o cinto. A dez quilômetros por hora, seguindo da praça Campo de Bagatelle até a Marginal Tietê, começaram uma conversa despretensiosa, interrompida por várias pessoas a pé perguntando ao motorista:

-Tá com passageiro?

-To. Tá ocupado.

Ele se voltava ao banco de trás:

-Ninguém tá vendo você.

-Pois é.

Realmente várias pessoas perguntaram a mesma coisa, sem nem se dar o trabalho de olhar se já havia alguém ocupando o táxi. Depois da negativa, encaravam o vidro de trás, que nem insulfilm tinha, e seguiam procurando outro motorista. Às vezes se espantavam com o rosto branco encarando friamente de volta.

-Aqui na marginal você vai ter que me explicar porque não sei exatamente qual é a saída que você deseja pegar, ok?

Silêncio. Tinha dormido?

-Ok moça?

Não havia ninguém no banco de trás.