sábado, agosto 15, 2020

Mare maré

Quando você for dormir

Eu vou sentar para escrever.

E das palavras que eu deixar no seu sonho

Vão vir as inspirações para eu criar uma história.

A história de uma praia.

 

Cujo mar se afastava cada vez mais da costa,

Ondas que batiam para se recolher, uma a uma,

O sol a pino sobre a areia úmida.

 

O mar se recolheu totalmente

Sem perspectiva de voltar.

Você decidiu andar em direção ao horizonte

Onde ainda via um resto de água.

 

O sal queimou os seus pés

os peixes se debatiam

as aves exaustas caíam do céu

os navios encalhados

os corais descobertos

Em linha reta

Para o fundo.

 

E você andou e andou

O horizonte às vezes parecia mais perto, e às vezes mais longe.

Você continuou andando

Cada vez menos atento ao sol que se punha.

 

Quando cansou de andar, você sentou

Na proa de um barco naufragado.

Já era quase noite

E nada do horizonte chegar.

 

Era melhor descansar por ali, antes que você acordasse

E o sonho acabasse

Quando você estivesse debaixo d’água.

 

Enfim, quem era você nessa história?

O pescador que quer puxar o texto da água a qualquer custo?

O anzol à espreita para prender as ideias que passam?

A isca exibida a atrair as histórias?

Ou o peixe idiota, que boiava com fome, e morreu pela boca?