quinta-feira, abril 12, 2018

Quinta-feira

Esta é uma sala de silêncio e risadinhas. Ninguém consegue ir além do próprio silêncio e ninguém sabe fazer mais do que as próprias risadinhas. É tão vazio e tão odioso. São as minhas companheiras hienas, que mal aproveitam a carcaça do que os professores jogam para seu público.

Faz um frio dos diabos no fundo da sala e não há nenhum som audível além do ar condicionado. São quatro dúzias de estudantes reunidos, metade olhando para frente de forma contínua. O resto, eu incluída, olha para baixo, para os lados ou vira os olhos para dentro da órbita ocular, ignorando o que se passa alguns metros à frente.

O professor pede um voluntário para algum exercício rápido. Para variar, ninguém concorda em ser exposto. Ele repete as instruções, eu continuo sem entender, mas peço para ter meu texto analisado.

Ninguém aqui me conhece. Ninguém sabe de onde eu venho. Gostaria muito de uma vez estar no centro da roda para ser julgada, apedrejada, aplaudida, cuspida. Estou há muito tempo em salas de aula e qualquer vergonha que eu tenha de aparecer nesse ambiente controlado e asséptico, tento sempre reduzir a zero.

Ele com certeza pensou bastante em como reproduzir um acontecimento, a partir do qual eu deveria escrever uma única lauda. Tem o seu script de abrir e fechar a porta para realizar algo impactante; e é interrompido.

Entra na sala o espécime masculino mais maravilhoso do mundo. Ele tem os cabelos loiros, as mãos suaves, o queixo forte. Além do atraso notável, demonstra segurança e carrega consigo os cabelos mais lindos que eu já vi na minha vida. Eu não consigo desviar o olhar enquanto ele se esgueira pelas cadeiras – uma fileira de garotas pouco solícitas evita lhe dar licença – e chega a seu destino final, um assento nos fundos. Como eu ia prestar atenção a qualquer coisa que se passava em qualquer outro lugar do mundo?

O professor avisa que pronto, era isso que ele queria fazer. Era isso que ele queria demonstrar – só isso, uma coisa qualquer que eu deixei passar, mas estou com o coração acelerado e irremediavelmente de ponta cabeça. E tenho vinte minutos para escrever sobre isso.