De agora em diante não quero mais ser alguém que tropeça
numa inspiração, cai feio, se machuca e fica cheia de dores por uma semana, só
pensando no sopro que esbarrou em mim.
Vou largar o compromisso de estar sempre atenta a cada um
que passar ao meu redor. Nada mais vai me despertar a curiosidade de saber como
essa pessoa é atrás da porta, depois do expediente, com outras máscaras,
embaixo dos lençóis. É o fim da ânsia de parar o tempo e me teletransportar
para a cadeira do computador do jeito que estou, sem mudar nada.
Espero não ter mais aqueles pensamentos que me acordam quando
estou quase pegando no sono, tão instigantes que preciso gravá-los de algum
jeito, em algum lugar. Prometo para mim mesma que vou lembrar até amanhã; e esqueço.
Quando eu parar de escrever, as pequenas coisas que me
incomodam vão sumir. Junto com elas, acredito que todos os meus problemas vão desaparecer
também. Sem o ímpeto de achar histórias nos menores lugares, o pêndulo entre viver
e escrever vai tombar obrigatoriamente para um lado só. Vou poder me dedicar a
uma vida sem reflexões doentias sobre tudo que acontece, sem palavras, sem
linhas, sem som. Sem vida.