terça-feira, dezembro 06, 2011

Frustração?

Se por um ângulo é feia, por nenhum pode ser bonita.

O ritual diário e solitário em frente ao espelho. Tenho que puxar mais o tecido, apertar os fechos, comprimir sem dó ossos e adjacentes, ajustar a roupa justa, e, que justiça seja feita, apelar para a fome.

Eu queria enxergar nisso uma perfeccionista doente, mas o que há de errado em querer estar bem?

Mas ninguém perdoa: caber nesse modelito ideal não satisfaz nem o tecido esgarçado nem a imprópria manequim.

quarta-feira, outubro 26, 2011

É verdade

Não tenho nem como pedir desculpas por passar tanto tempo sem escrever. Sempre sou eu quem mais perde por deixar notas e rodapés criativos apenas como notas e rodapés. Alguém discorda?

Vou me alongar na conversa (monólogo) hoje porque eu quero.

Segunda a sexta (basicamente): são horários sem brilho. Eu tento comer alguns papéis, o dedo ossudo do cotidiano cutuca minha garganta e eu vomito meus defeitos em um pequeno espaço pré-determinado.

Claro que alguns momentos têm sim sua graça, o espírito da alegria em si para levantar meu sorriso. Quando caio na realidade (sempre achei realidade um nome tão ilusório) e nos rostos vazios à minha volta, caio na tristeza.

Odeio chegar, odeio partir. Em todas, e eu disse todas, as situações.

Sábado: mais uma mentira. Às vezes um sonho que faz meu cérebro virar manteiga, outras vezes um pesadelo de rochas no meu crânio.

Domingo: fico na cama o dia inteiro. Não levanto.

terça-feira, agosto 09, 2011

Aí está

Eu escrevi um milhão de cartas, mas não eram bem pra você. Na minha voz o que eu queria dizer, a caligrafia ajustada para que você entendesse. Mas não você não era, e nunca será, o leitor adequado.

O que faço agora? Queimo o papel, a beleza das letras deslizadas com carinho?

Posso me sentir bem com o seu agora sofrimento?

O que passou sumirá, só por que o agora ‘sofreu mudanças’? E deus, por que tantas perguntas?

sexta-feira, julho 29, 2011

Imaginação tediosa

Abro os olhos, um pouquinho, acordo. Fecho os olhos, volto a dormir. Me aninho entre os lençóis, os cobertores e os travesseiros, coisas velhas, tudo gasto. Tudo ainda quentinho. Uma das melhores sensações do meu dia, senão a melhor, a mais confortável de longe, onde me preocupo só e absolutamente só com o meu prazer, com o meu bem-estar, com o que eu quero. Não finjo nada, não me pressiono, sou só eu. Me enrolo e aperto tudo em volta de mim, não importa se eu estiver suja, feia e desarrumada.

Nem gosto tanto de me espreguiçar, abrir os braços e me esticar. Sou mais de alongar o pescoço, os ombros e as costas me torcendo na cama, parafusando e desparafusando.

O quarto nunca está totalmente escuro. Uma falha na porta, duas frestas na janela e a fechadura da porta do banheiro, ainda que o outro lado tenha chave.

Acordo (finalmente) e não sei como. Tateio na bancada ao lado da cama, derrubo porta-retratos, encosto em potes de creme, dou socos em bichinhos e pelúcia e apanho os óculos. Procuro no chão chinelos de dedos, vou ao banheiro e faço o que tenho que fazer, ainda que não tenha vontade, lavo as mãos muito bem e vou à cozinha.

Abro a porta da cozinha e ainda como um zumbi, espio para ver se o jornal do dia está em cima da mesa, fechado no plástico. Amo os dias em que eu sou a primeira a ler, mas são raros. Normalmente alguém já abriu, leu algumas partes e dobrou de volta.

Abro o primeiro armário de uma fileira no alto, que é o armário com minha coleção de canecas, e penso no dia que terei pela frente. Esse ritual me desperta um pouco. Analiso se dois gatos pretos de Salem, uma obra de Picasso, um dragão mexicano, a Hello Kitty ou artistas do Cirque du Soleil serão mais apropriados ao meu humor. Escolho uma, encho de leite frio e coloco no microondas, que deixo desligado.

Arrumo a louça que preciso para o café-da-manhã. Um prato de sobremesa, um pires, uma faca de sobremesa e uma colher de chá. Também um canudo, de uma embalagem com quatro opções de cores neon: verde, laranja, amarelo e rosa. Costumo usar bastante o rosa, quase todos os dias, o verde quando o dia será cheio de paixão, o amarelo quando quero dinheiro e o laranja apenas para manter o equilíbrio entre as quantidades. Não gosto de canudos laranjas.

No armário de baixo pego achocolatado em pó. Aquele bom, que já vem com açúcar. O achocolatado que me acompanhou com certeza a vida toda.

Pego o requeijão na geladeira. Adoro requeijão consistente, que não escorre. Tenho comprado mais desse marca em especial, as embalagens de vidro são bonitinhas. Abro um saco de bisnaguinhas e coloco três, exatamente três, no meu prato. Me sento para prepará-las.

Quando estão prontas, levanto e ligo o microondas. Costumava deixar por um minuto e dez segundos, agora coloco sempre por um minuto e dezessete segundos. Corro para sentar assim que aperto o botão LIGAR.

Eu como só uma bisnaguinha durante esse tempo, melecando-a de requeijão nas laterais e lendo o jornal com atenção.

O microondas apita, eu pego com cuidado a caneca, coloco-a no pires. Enquanto como a segunda bisnaguinha, despejo generosas quatro colheres e meia de achocolatado. Quando era mais nova (e menos... apta a agüentar bebidas fortes), eu colocava apenas três, e hoje ponho até cinco quando o dia parecer muito longo.

Se puder, passo a manhã inteira, quase uma hora, lendo todo o jornal, todos os cadernos e muitas, muitas reportagens, matérias e crônicas.




Esse retrato do meu despertar e café-da-manhã não está correto. Há muitas partes que eu simplesmente não sei descrever, pois não me lembro do que faço com precisão. Só sei que faço tudo automaticamente e do mesmo jeito precisamente todos os dias.

sexta-feira, julho 01, 2011

Infeliz

Às vezes eu esqueço que estou de moletom em frente ao computador e sonho com um mundo que parece inalcançável, tremendo dos pés a cabeça, com lágrimas nos olhos e engasgada com malditos pedaços de unhas que eu não podia roer de jeito nenhum.

Odeio o meu corpo. Esse pequeno saco de pele e ossos, gostosura, fartura, gordura. Apertado nos jeans, inimigo da passarela e fiel à lycra.

Não cabe em lugar nenhum. Não cabe nos meus sonhos. Tem de mudar.

terça-feira, junho 07, 2011

Vem

Tromba comigo sem querer, me encontra por aí. Que seja tudo ao acaso, que nada mais tenha propósito. Me faz perder o ar e me deixa sem palavras, puxa dessa alma envelhecida tudo o que está em sépia e põe brilho nas minhas ideias.

Esquece o porquê de o seu coração bater, esquece tudo o que você prometeu sabendo que não ia cumprir, esquece ela e esquece lá: volta pra mim. Quero ser feliz de novo.

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Ana Lúcia Bastelardos

Ana Lúcia Bastelardos. A mistura bizarra de Candelabros com Bastardos (objeto e condição que orbitavam-na, sem que demorasse pensando nisso), mais o nome composto que se sussurra como os pecados de Lúcifer.

Amansada no confronto, encurralada e endoidada. Juventude numa lata de lixo, tantos traumas que um escritor de novela choraria por dias a fio. Fraqueza que às vezes vira força, ela não sabe o porquê. Dá pra conciliar paixão e tesão, fingir sem enganar, nessa vida esfarelada?

Ana Lúcia adocica a vida a lágrimas, salga a morte com a doçura das flores. Ela queria só o sol do fim da madrugada, a brisa fria que sopra no décimo quinto andar, os milhares de lençóis macios, quem sabe uma rouquidão estranha... Paz.

– Bastelardos, quer saber? Vou embora!

Um quinquilhão de ecos no escuro, portas batendo. Muitos, muitos, muitos que por sua vida passaram sem conseguir entender tal personagem, largando-a para que se consiga o próprio bem psicológico. Há alguém que consiga com ela coexistir?

Abre os olhos e dói ver. Sabe que o certo é querer cegar-se, porém não deixa de encarar a olhos frios todo esse horror da vida. Ana Lúcia enxerga por frestas; faz de modo insignificante, sem insignificar-se.

O tempo passa, opiniões e devaneios ficam para trás no ócio, tudo está enfim em escarlate mas mal adianta se fechar dentro das cortinas de seu palco particular. Ainda chovem palpites soltos, desconexos, improváveis, incontáveis, incompletos, tão absurdos que não chegam a fazer cócegas na confusão de sua alma. Ela tenta deixar de lado as ranhuras cheias de teias de aranha...

quinta-feira, janeiro 13, 2011

Buraco negro

Meu coração cheio de amor
É um errante buraco negro
Como se o anestesista
Espetasse os próprios dedos

Nenhum transplante tiraria
Deste peito mal-tratado
Tal órgão apodrecido
Tanto sangue envenenado

Ninguém vê que esta máquina
Que eu finjo que funciona
Existe nas mentiras
Se sustenta naquele sem-vergonha...

Dizem que o doer é normal
Espero que o remédio possa tanto me ferir
Faça o favor de me destroçar
Me deixar sem existir

quarta-feira, janeiro 05, 2011

Mais um

Há 16 anos chove torrencialmente todo dia 5 de Janeiro.

Acredite em mim, sempre chove. Não é metáfora relacionada ao meu aniversário nem analogia à pureza das águas do verão que vêm para limpar a minha alma... É fato, e dos bem esdrúxulos.

Acho que algo está reservado para mim, algum dia.