quinta-feira, novembro 25, 2010

O atual é banal

Falar mal, falar bem, falar qualquer coisa, falar em qualquer lugar; virou moda falar: dar a sua opinião ou a cara para bater, compartilhar uma ideia ou condenar outra sem piedade. Minutos e minutos que nós, jovens na flor da imaturidade, passamos ouvindo e mandando calar a boca, discutindo e julgando, teclando freneticamente e recebendo como público outros tantos que se apóiam em conceitos compartilhados mais de um milhão de vezes na base do CtrL+C e Ctrl+V. Muito tempo que nós fielmente dedicamos ao ato de criticar, de nos expressar com agressividade ou carinho, de nos fazer presentes neste mundo em que somos contados como cabeças de gado: a Internet.

Transitando sem dar seta entre o Orkut, o Twitter, o Formspring e o You Tube, para citar os sites mais utilizados pelos adolescentes, a juventude atual compartilha com a rapidez de um clique (ou a de um piscar de olhos) qualquer tipo de foto ou notícia, absorvendo uma manchete ou uma legenda e mandando a mensagem aos dedos - enviar, disseminar, espalhar – antes que ela realmente chegue ao cérebro – interpretar, relacionar, refletir.

Somos uma juventude financiada com liberdade pelos nossos pais, que sem checar nosso destino, nos dão como instrumentos de viagem computadores com internet veloz, celulares de última geração, tocadores de música e câmeras fotográficas digitais. E nessa onda de produzir o próprio material, seja ele em texto, vídeo ou foto, a disseminação é intensa, impensada, impactante, uma bomba relógio que passa de mão em mão, frequentemente sem pé nem cabeça.

Assim traçamos nosso falso caminho, pensando que pela vida toda conseguiremos ajustar brilho, contraste e temperatura de cor como na tela do computador, deletar os males da vida clicando no X do canto direito superior, até que a bateria acabe...

Normal, hoje, é aquele desinformado, definhando na ignorância cotidiana. As polêmicas políticas, econômicas e sociais do nosso País são trocadas pela noticia ordinária; decisões sérias que mudarão o planeta perdem a audiência para a foto e a declaração banal do artista cegamente venerado. Invertemos a escala de importância e ficamos por fora do mundo real, ao qual chegaremos inevitavelmente daqui a alguns anos, quando os atuais ídolos tiverem barba na cara e vergonha por escravizar uma geração à custa do próprio lucro.

quarta-feira, novembro 17, 2010

Quando o emocional se torna físico

Fila longa no hospital. Chora alto o bebê nos braços da negra magra. Geme o homem que aperta um pano de enxugar pratos contra a perna que pinga vermelho. Grita sem parar a menina cuja mãe tenta amparar, pressionando um saco de gelo na mãozinha que parece estar quebrada. E mais dúzias de pacientes, de pé ou sentados, dirigiam o olhar sem rumo ao relógio tiquetaqueando baixinho. A sala de espera do pronto-socorro tinha todas as janelas abertas, entretanto o ar abafado não distinguia mais dentro e fora, fazendo todos suarem.

A recepcionista passa as mãos pela testa que pinga fadiga e exaustão. Seu estômago ronca tão alto que se todos fizessem silêncio sua fome se tornaria audível andares acima.

Chega perto uma jovem muito bela, decidida, porém de saúde frágil; seu estado é gravíssimo, sente que morrerá a qualquer minuto. Com as mãos no peito, um pano está amarrado forte passando por baixo de seus braços. A jovem se apóia na mesa de atendimento, suspira e pede por um momento a atenção da recepcionista, perdida na bagunça. Quer saber aonde ir, a quem choramingar, se há alguém nesse edifício, nesse mundo, que possa ouvir suas lamúrias e segurar sua mão quando doer. A funcionária do hospital bem que tenta, mas não entende o que a jovem diz; o barulho é ensurdecedor, alguém decidiu ligar a televisão e colocar no volume máximo o replay do desfile de escolas de samba daquele ano. Por linguagem labial, elas se entendem: ‘Aponte o seu problema’, a recepcionista fala.

A jovem com cuidado desata o nó. Duas metades de um coração em sangue pendiam pela blusa, daí o lencinho para segurá-lo dentro do peito mal-tratado.

sábado, novembro 13, 2010

Não quis mais esperar

Está de volta a dama dos livros, da escrita, dos blogs em geral!

Arrogância seria se eu me considerasse essa tal dama, já que as peculiares educação e inocência de uma respeitável senhorita eu perdi numa última discussão tanto mais inflamada com um amigo meu...

É no fundo só mais uma brincadeira anunciar que enfim retornou, após um hiato de quatro meses, a lady das ladys em matéria de publicação de textos. Deixo aqui registrado só o meu orgulho por ter este blog, e o quanto é grande para mim ter coragem de publicar cada texto que publico, ciente de que espetaculares eles não são. Encho o peito ao dizer que me esforço e que adoro escrever, e que cuido, ao máximo da minha disponibilidade, com carinho deste singelo sítio. Viva, e que o próximo texto não seja essa larga enrolação...