Eu sei que tem sim algo trincado nos ossinhos, algo que não vai
se arrumar sem a devida imobilização. Já decidi que quando eu precisar de
descanso, quando não der conta nem de pedir as contas, vou fugir para o pronto-socorro
no horário de pico com o laptop debaixo do braço. O tempo de espera para ser
atendida e examinada servirá para me trazer paz.
De repente, quando achei que a vida tinha se tornado
realmente intolerável, e a necessidade de aguardar o atendimento seria impossível
de ignorar, a dor pulou de uma mão para a outra. Da destra necessária, imprescindível,
fugiu para a canhota inútil, boba. E agora?
Engessar a outra mão não funciona como desculpa para abdicar
do dia a dia profissional, e deve me prejudicar apenas 50% em âmbito privado:
lavar o cabelo, usar talheres, dirigir, perderei a independência sem perder a utilidade. E os meus chefes com isso? Contanto que
a minha mão apta esteja disponível, pode vir só ela mesma, serrada na altura do
pulso, para discar o telefone, copiar um documento, arrumar as gavetas. Todo o
resto em dor, quebrado, destruído, não importa; basta que a ferramenta de trabalho
tenha vontade de corresponder ao script combinado.