quarta-feira, dezembro 02, 2009

Horror espelhado e induzido

A vida seria melhor sem
O nosso corpo
A nossa mente
Nós mesmos
É o fim do prazer em ser humano
Ao ligar o computador
Ao assistir televisão
Ao ver os sonhos quebrados
Ao conviver com a decepção
Se nem sentimentos sobrevivem
Somos humanos
Ainda?
O realmente verdadeiro
É tido como estranho
Eu já não sei mais
Se existe alguém do meu lado

(O orgulho surge tão fraco...)

quarta-feira, novembro 25, 2009

Alguém se lembra?

"Anônimo disse (com correções de Flávia)...
Conheço bem essa historia em cada detalhe.... Engraçado que estava pensando nele e me perguntando porquê ainda gosto dele quando achei aqui nessa telinha esse texto descrevendo tudo exatamente... (...) Tudo que eu senti foi exatamente igual, tudo que aconteceu também.... O problema é que quando revelei meus sentimentos ele disse que era loucura, que por mais que eu fosse uma garota do tipo que ele namoraria, ele nao conseguia no mundo dele se ver numa narração de internet... Ele era muito pé no chão... e eu muito sonhadora...
Arranjei um namorado, estava na hora de recomeçar, ele ficou com ciúmes, me afastei dele para sempre, mas ainda penso nele e me pergunto se ele ainda lembra de mim, das horas de conversa, dos riso trocados, confidências, e cuidados um com outro....e agora meu namorado largou uma carreira por mim e quer se casar comigo... Eu o amo muito, mas ainda penso no outro de vez em nunca, mas penso.... Não sei se penso como se ainda gostasse e isso me lembra uma música que nós dois amavamos, a letra dizia:

Eu estou apenas envelhecendo
Eu não estou superando você, eu estou tentando
Eu desejo que isto não machuque assim
Tem sido um caminho tão longo para os tempos que falhamos
Eu não posso acreditar que ainda machuca assim

Tenho medo de apenas envelhecer e nunca me esquecer disto....

Sábado, Fevereiro 14, 2009 10:35:00 AM"

A autora deste comentário, feito há bastante tempo atrás, nesse post aqui ? Nunca descobri o nome, email, blog ou cidade, nem o final da história. Surgiu como anônima, num comentário que me comoveu e ainda me comove; na época, esperei que ela voltasse em mais comentários, o que não ocorreu. Ela teve coragem em adimitir que o amor que sentiu, tão forte, mesmo que pela internet, não se extinguiu, e que às vezes ele parece voltar em lembranças, raras, porém que a balançam a ponto de duvidar de casamentos e outras escolhas.
Estaria casada a essa hora? Ou teria largado o tal namorado? Me mordo de curiosidade, e um certo sentimento de preocupação também me persegue, qualquer leitor daqui merece minha atenção. Em particular, aqueles que se identificam com meus textos, claro. E se for de uma maneira forte, podem até merecer um post.
Por hoje, peço por notícias da autora anônima do comentário acima. Quem tiver alguma informação ou suspeita, me avise. Se ela, em pessoa, voltasse aqui, seria um tremendo alívio, junto com uma certa, como dizer?, saudade.
E a música citada, para quem como eu não sabe o que é, eu acho que chama 'The Older I Get', de Skillet, com jeito de que já aconteceu.

quarta-feira, outubro 28, 2009

Enquanto isso...

A abelha, deitada com as patinhas pra cima, agonizava. Não conseguia se virar, mexia-se com sua forcinha leve ao máximo e nem saía do lugar. Eu tive pena, e nojo, de mata-lá com uma bela chinelada para finalizar o sofrimento. Preferi observar por um tempo a incapacidade do pequeno inseto, suas asas debilmente em contato com o mármore frio. Sentiria ela frio? Ou medo? Não me lembro da parte da aula em que a professora descreveu o sistema nervoso das abelhas.

Decidi ignorar, mais tarde escrever sobre isso.

Quando arranjei papel, caneta e inspiração, encontrei a abelha perfeitamente morta, com as asas para cima. Parecia querer voar.

quarta-feira, outubro 21, 2009

Coisa, coisinha

A quem possa interessar: Eu sempre vi características humanas em objetos.

Como se suas formas ditadas por nós fossem perfeitamente vivas, pudessem ter sentimentos, falar, andar, nos observar em sua aparente quietude. Eu enxergo claramente a dor que suas quedas ao chão trazem, o quão cegos ficam quando o sol está em suas vistas, que o frio os aproxima para que compartilhem calor.

Quem sabe eles até me entendam, já está cheio de pessoas que não me entendem esse mundo.

Os instintos mais básicos são facilmente encontrados. Após algum tempo, a própria personalidade também pode ser descrita, baseada no modo de interação com o ambiente ao redor.

A quem possa interessar: Quem sabe eu mesma também não seja um objeto?

terça-feira, outubro 13, 2009

Boa experiência!

Formiga, por que você tinha que passear por aqui? De doce, eu não tenho nada, e você devia bem saber.

Se carcomido já está o meu coração, e divididas as minhas ideias, o que você pensa que vai encontrar?

Pare de correr atrás do que não existe mais, o que é que eu tenho a te oferecer? Não arranjo nem coragem pra te libertar deste calabouço no fundo do copo de vidro.

Vá procurar o seu formigueiro em outro canto, o que restou de mim já foi bem remexido, obrigada.

Não adianta adivinhar os meus motivos, eu já os contei tanto que eles se acostumaram a me perseguir por aí: quem não os decifrar, nunca me entenderá.

Ou fique aqui de uma vez, a solidão já chega pra nos acompanhar e a arrogância já está aqui, não viu no brilho dos meus olhos?

domingo, setembro 27, 2009

-Mais um pedaço de massa cinzenta, por favor.

Agitando a senha amarela e amassada na mão, a cliente, número 456, uma aposentada ainda muito digna, chamou um atendente. Mas o serviço de entrega de massas cinzentas havia piorado muito, naquele balcão localizado nos fundos de uma padaria suspeita nos confins do Centro de São Paulo e Pedro (devido as constantes brigas de Paulo e Pedro, os apóstolos em pessoa, o nome deste último havia sido adicionado ao nome da Capital. O que não diminuíra em nada o número de arranca-rabos: ainda duelavam para ver se o nome do time de futebol também mudava.).
O rapaizinho de avental, mal saído da última ressaca, examinou a olhos fundos a autenticidade da senha daquela senhora, para o desgosto dela. Para que teria comprado uma senha falsa, se ainda era um dos poucos cidadãos honestos naquela Cidade? Ainda que as autoridades não concordassem, todos os esquemas que ela supostamente havia armado eram limpos como as porcelanas que pendurava nas paredes da cozinha.
A canseira que emanava do mal encarado boy quando este pediu licença para buscar o pedido na cozinha levou-a à distração. Peguntava-se, se era necessário, realmente, mais pedaços de massa cinzenta (não tão caros assim, ainda bem), após ter os estoques, bem guardados em vasos Made in Chinindia, jogados na privada pelo seu adorado netinho (havia puxado a família da nora, jamais a de seu próprio filho). Ainda que a mãe do menino anunciasse que preferia entregar-lhe a massa cinzenta do garoto, fresquinha, do que permitir a sogra fosse atrás de massa cinzenta nova, mas ainda assim velha, não saía de sua cabeça a imagem da mulher de seu adorado filho, em plena festa própria de casamento, vomitando no seu vestido bordado, vestido que não tirava mais do armário. Inconfiável moça.
Com um plaf nojento, o rapaz colocou sobre o balcão um pedaço ainda quentinho de massa cinzenta. Vestindo luvas que trouxera de casa (recusava sempre as que os funcionários dali lhe entregavam, não confiava em suas esterelizações prometidas), examinou com dedos finos cada parte da massa. Cutucou para examinar a consistência, enquanto o rapaz cutucava discretamente o nariz.
-Vou levar.
Embalada em jornal (que àquela época, destinava-se só àquilo), a massa cinzenta, pesava exatos 456 gramas. Niguém notou a coincidência.
A senhora arrumou espaço em sua bolsa de plástico (tão em moda), para o embrulho.
Tomou o ônibus e seguiu na viagem de volta, levando massa cinzenta na bolsa, não na cabeça, como tantos outros passageiros.

terça-feira, setembro 22, 2009

Privação ao maior bem

O direito de viver, que envolve questões como o aborto e o homicídio, engloba também a pena de morte. Utilizada em certos países como ultima saída a determinados criminosos, pode acontecer por diversos meios, entre eles a cadeira elétrica, o enforcamento e injeções letais. Não é o único indicador para o bom funcionamento do sistema penitenciário de cada país; por outro lado, chama a atenção às ideias de pessoas ao redor do mundo sobre a ética envolvida no direito de começar ou acabar com a vida.
Tratada por algumas nações como o definitivo método de combate ao crime, infelizmente não obteve resultados tão satisfatórios assim. Continuam ocorrendo crimes extremamente violentos, entre assassinatos, seqüestros e estupros.
O ‘medo’ que a própria privação ao bem de viver livremente, a prisão, deveria causar, não acontece, principalmente no Brasil, onde a Justiça muitas vezes acaba por não funcionar corretamente.
Chegamos aqui a um ponto crítico, no qual o mau tratamento dado aos presos em cadeias superlotadas não é o suficiente para os ressocializar e leva a constantes rebeliões e fugas. Seria a hora de instituir a pena de morte sob o pretexto de arranjar o espaço nas cadeias e evitar reincidências de crimes violentos?

sábado, setembro 12, 2009

Aceita?

Bebi devagar o meu chá; eu não gostava de chá, principalmente daquele, feito com folhas verdes e cogumelos vermelhos batidos com leite de porco, entretanto, seria uma indesculpável falta de bons modos deixá–lo esfriando na xícara azul. Um engraçadíssimo bule transparente a toda hora flutuava da mesinha de centro e despejava um pouquinho mais em minha xícara, mesmo quando eu lhe dizia educadamente que já estava satisfeitíssima. Apesar de não possuir uma face para expressar suas emoções, comportava–se como um perfeitíssimo ser humano.

A senhora sentada à minha frente tomava o chá a toda velocidade, sem parecer se importar com a quentura ou com o gosto amarguíssimo. Trajava uma saia e uma blusa de tecidos roxos e laranjas belíssimos. Apenas enquanto o bule a servia ela conversava falava comigo, sempre um pouco distraída:

–Há tanto tempo você não vem aqui... Certamente algumas semanas.

Expliquei–lhe que não era sempre, infelizmente, que eu podia visitá–la. Seus olhos encararam fundo em mim; o fazia para lembrar de minha avó.

–Lembro–me agora de uma vez em que sua avó estava aqui, para um chá, – bebeu o conteúdo fumegante num só gole – tranqüilíssimo como esse, justamente quando uma nave enorme estacionou bem ali! Corremos pra lá – ela apontou uma imensidão escura – e, imagine, encontramos três senhores esquisitíssimos, que se moviam lentamente, piores do que lesmas!...

Eu gostava de ouvir suas histórias, principalmente aquelas que incluíam meus parentes. Não me importava de ter que ir tão longe, naquele frio, para visitá–la. Tomei um golinho do chá e, disfarçando o gosto repugnante preso em minha língua, pedi que ela continuasse:

–Por vez ou outra passa algo voando aqui por perto, naquela direção, – ela apontou uma coisinha brilhante e vermelha – mas sempre costumam mais ir pra lá – tomou o chá e, catando o bule no ar, direcionou–o para um outro pontinho mais aceso e um pouco maior no lado oposto.

–Nada nunca bateu aqui? Algo que estava voando perto... e caiu?

O bule nunca se esvaziava. Felizmente, às vezes ficava quietinho, sem voar, ouvindo comigo as histórias. Eu ficava aliviada, porque assim podia acabar logo com o chá restante em minha xícara. Afaguei sua tampa delicadamente, agradecida pelo sossego.

–Ora, claro! Em algumas ocasiões, tenho até que me esconder por alguns dias, pois muitas coisas ficam caindo, coisas pesadas, cinzas e com inscrições azuis, vermelhas, pretas, amarelas e brancas.

– A senhora nunca quis ir embora?

Ela colocou com uma das mãos a xícara e o pires na mesinha (eles boiaram no ar por alguns segundo até ela lançar-lhes um olhar malvado), suspirou fundo:

–Jamais existiu um dia em minha vida em que eu não quisesse voltar. Você, sendo neta de sua avó, deveria, a partir de hoje, saber de um pequenino fato, acho eu: – aproximou–se:

–Tenho medo da solidão.

Fiquei boquiaberta. Ela continuou:

–Tenho pavor do silêncio, de não ter ninguém. De conviver apenas com a própria sombra e só poder ouvir a própria voz. De não poder compartilhar nada com ninguém, de não ter ninguém para me receber, muito menos convidados para entreter de vez em quando. De viver sem ninguém para me dizer bom dia ou boa noite, deixando assim a minha agonia mais lenta ainda... Sinto–me inabitada, pois não há quem possa morar no meu coração ou ocupar meus pensamentos. É, vocês seres humanos me fazem falta.

Ela sentia–se tristíssima, como eu nunca havia imaginado antes. Foi um pequeno choque, admito, encontrar tamanha senhora tão abalada. O bule suspirou, deixando escapar fumaça, sabendo da dor de sua dona. O ambiente ficou mais frio e as estrelas pareceram piscar loucamente (ainda que eu tenha dado pouca atenção a isso). Eu confortei–a segurando sua mão macia e redondíssima que ela deixara sobre vagando no ar. Sorriu para mim um sorriso grato (pude ver seus olhos molhadíssimos), e puxou a mão para enxugar uma lágrima.

–Nunca me acostumei e nunca conseguirei. Mas, é preciso. É necessário. É indispensável. É até mesmo óbvio. Eu mereço e nunca disse que não ficaria aqui. Não se preocupe: todos têm que pagar, às vezes por sua insolência e audácia, ocorrida em qualquer época da vida.

Meu relógio assoviou. Eu precisava voltar para casa.

Se não fosse tão ingênua à época, poderia ter notado sua expressão mudar em alguns milímetros.

–Desculpe, tenho que ir. – mordi o lábio, infeliz por ter de deixá–la sozinha novamente. Pobre velhinha...

–Vá, querida. Não se preocupe. Só deixe–me antes mostrar–lhe uma coisinha.

Ela fechou meus olhos assoprando-os. Senti-a segurar-me pelos ombros, levando–me para um outro lado. Andamos pelas terras esburacadas. Soprando-me novamente (senti alguma sonolência e uma leve sensação de poder voar), eu os abri.

E ali estava a Terra, quieta, azul, marrom, verde e branca. Grandíssima, era maior do que o que eu imaginava. Distingui a América, onde ainda era dia, da Europa e da África, onde já estava noite. Jamais havia imaginado vê-la assim; pensava como um pequeno ponto no espaço. Nunca entendi sua grandeza ou as fórmulas que explicavam o seu tamanho.

Eu queria abraçar aquela generosa senhora para expressar minha felicidade e me despedir, mas ao me virar, ela não estava mais lá. Não havia ninguém por perto.

Só as sombras se aproximavam, querendo me devorar.

Quando tomei fôlego, já não enxergava mais nada, apenas um pouquinho da Terra, longe demais. Eu experimentava como era ser parte do escuro, tomada pelo medo.

A cada segundo eu estava cada vez menos viva.

Era o meu fim. Eu estava do lado escuro da lua.

Solitária.
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Ainda que na escuridão, meu coração brilhava.

sábado, setembro 05, 2009

Pra você, amiga verdadeira pra caralh*!

Faltavam-lhes sinceridades; no plural? Mais do que no plural, pois acontecimentos onde sobrou falsidade eram tão comuns que as duas confundiam a si mesmas, roendo por dentro uma vergonha de tanta hipocrisia atirada de graça uma contra a outra.
Motivos exorbitavam o possível, de um lado e do outro. Continham fatos tão reais que o que foi projetado para ser a viagem de concretização de uma amizade transformou-se num show de palhaços atirando tomates podres numa platéia estupefata que jamais esperaria tantos erros bobos virando uma enorme coluna, que por fim desabava lentamente cortando o antes sólido laço que as unia.
É, com exemplos vagos assim, elas fugiam do remorso que puxava seus pés à noite, acordando-as e fazendo-as olhar uma nos olhos da outra, para logo desviar o olhar, já que não valia a pena enxergar o óbvio mais do que uma vez.
A completa arrogância lhes trazia a sensação de segurança que lhes encobrira. E logo, o arrependimento deu lugar a outras coisas igualmente importantes (compras, compras, compras).
Pra que se preocupar? Nenhuma delas queria voltar.

(Baseado em um delírio em dupla, já consertado. DESCULPA!)

quinta-feira, agosto 27, 2009

I Parte

Querido Diário,

Agora que descobri como colocar senhas em documentos de texto, por que não? Afinal, tão simples. Espero que com ele volte a escrever, nem que sejam todas baboseiras cheias de pequenas linhas vermelhas embaixo.

O.k., devo escrever sobre minha vida ou talvez sobre quem ou seu ou sobre os meus problemas? Sobre os meus problemas seria por demais complicado, devido à sua constante ocupação de minha mente, durante todo tempo ocioso ou não. Sobre quem sou eu, do que adianta, se num dia me acho algo mas logo depois já me colo à alguma definição? Sobra-me, por mais óbvio que seja para um diário, um retrato sobre meus dias. Sem rascunhos? (Ou seria a minha vida um próprio rascunho?).

Acontece que não tenho experiência alguma nesse campo. Na verdade, o que eu achava que era experiência devia ser talvez uma explosão infantil numa caderno de folhas azuis e perfumadas, com bordas decoradas. Mais ou menos desabafos. Contudo ainda não tão graves de jeito algum tão desesperados. Coisas que hoje no piscar dos meus olhos por trás das lentes dos óculos eu resolvo. Ou pelo menos engulo mais facilmente.

Talvez, escrever sobre minha história, o que já aconteceu ou que eu quis que acontecesse. Ridiculamente fácil caso eu possa alterar fatos ordinários, como nomes, datas, endereços e telefones, e quem sabe, adicionar alguns pontos ali e aqui.

Documento arquivado, em pasta nova, tinindo de nova. À luta, já? Quem diria que tanta euforia em chegar ao meu lar eu transformaria em disposição para voltar aos escritos? Ninguém, ninguém...

terça-feira, agosto 11, 2009

De volta

25 de Março, para quem passou um mês na gelada e educada Alemanha, é um prato cheio. Subir a Ladeira Porto Geral perto do horário de almoço, no sol, pra mim é ser paulistana outra vez. Pegar metrô pra lá e pra cá (os trens novos tem até cheirinho de novo!) é mais básico. Ouvir neguinho gritando (aleluia, em português!) cada produto maluco e te chamano de mina mais linda do Brasil, soa como 'seja muito bem vinda!'
Eu, com essa cara de turista (devido ao cabelo novo), olhos esbugalhados de não saber pra onde olhar numa confusão de compras, lojas e rapas, procurei o que queria, pechinchei e comprei sim. Umas coisinhas pro cabelo, um chaveirinho e, claro, um livro. Esse foi na Livraria Cultura do Conjunto Nacional na Paulista, mas que não deixa de ser parte das 'Compras da 25'!

quinta-feira, maio 14, 2009

Fique suave na sua nave

Tenha um dia cheíssimo na escola (nas entrelinhas: ria até não poder mais);
Saia do colégio tarde;
Vá para casa;
Mas seja obrigada ir comprar peixes com o papai;
Fique gostando dos ratinhos da Mongólia na pet shop;
Leve apenas alguns neons assustados;
Entre no carro;
Perceba que o carro não funciona;
Sorria;
Empurre o simpático Fusca sozinha.

sábado, maio 09, 2009

Fique de boa na sua lagoa

Vá pra escola às sete da manhã no sábado;
Volte pra casa ao meio dia;
Capote na cama;
Levante às três da tarde;
Vista a camisa do seu time de coração;
Fique em casa sozinha, meio morrendo de fome;
Abra a janela e respire o ar pouco pura lá de fora;
Ligue o computador;
Encontre on line um certo alguém.

quarta-feira, abril 29, 2009

Prova de Redação - 14/04/09 - Nota: 6,7

A moça morava perto de um antigo cemitério, no Rio de Janeiro. E quem morava por ali tinha conhecimento da morte, pois toda hora um enterro passava. Observá–los era para ela uma diversão.
Para a moça não interessava a exuberante natureza da cidade, não importava o mar espumante que lambia a areia, próximo à sua casa. Sentia–se em paz quando deslizava pelas ruazinhas brancas, mergulhada em seus pensamentos, sem se importar com ar tétrico que emanava do chão. Olhava uma inscrição aqui, descobria uma figura de anjinho ali, olhava retratos apagados pelo tempo, fazia conta da idade dos mortos. Às vezes, subia o morro, onde estava a parte nova do cemitério, e os túmulos mais modestos.
Não se importava com os muitas vezes maldosos comentários da vizinhança idosa naquele quarteirão. Em sua liberdade modesta, aproveitava o tempo principalmente navegando pelos rumos da morte.
Era realizado um velório, no horário de almoço daquela tarde. Ela já pensava salivando em seu macarrão mal cozido e sem molho, contudo ficou, pois a presença apenas de mulheres, aparentemente novas como ela, carregando solitários girassóis, a intrigou. Vestidos negros eram arrastados no chão, nenhuma lágrima caía; uma legião de amantes que o homem colecionara?
Quando o caixão finalmente desceu, elas deixaram em volta do jazigo sem inscrição alguma todos aqueles girassóis. De tão amontoados, um rolou por sobre os outros, ficando sozinho na grama. A moça o recolheu, e dedilhando suas pétalas, caminhou para casa.

Sete horas da manhã. A hora de levantar para caminhar até seu simples trabalho como caixa em um mercado do bairro. Mas ao invés de acordar nada delicadamente com o despertador, abriu os olhos e leu no rádio–relógio: 6:59AM.
Virou–se de barriga para cima e encarando o teto aguardou um minuto. Porém, foi o telefone que lhe tirou a preguiça. Ele estava no criado–mudo junto ao girassol, e quando ela o atendeu, a flor caiu ao chão.
–Peço perdão, senhorita gentil, mas precisa–me devolver a flor. Nada de mais, apenas uma formalidade, porém imprescindível. Imploro–lhe este ultimo ato de bondade, querida!
Tão logo ela atendeu, tão logo desligou. Ora, que diabo de irmão ela tinha! Brincadeiras tão tolas logo pela manhã! Nunca usava a razão. Ela não perdoava o fato de ele estar na sua inicial juventude; esperava dele alguma noção do perigo em que se metera tentando assustar a irmã.
Em sua visita ao cemitério naquela tarde, quando a noite já se fundia ao dia, ela notou que os girassóis continuavam tão vivos quanto no dia anterior, apesar de não terem sido regados ou trocados. Tão bela, a morte que às vezes não quer nos levar...

Não tocou no assunto com seu irmão durante o jantar; aliás, mal tocou na comida. Um forte enjôo a atingiu e ela nem cogitou comer. Logo estava em seu quarto, brincando com o brilhante girassol que tinha guardado na gaveta do criado–mudo. Cheirava–o, mas ele não tinha um aroma conhecido, tinha o cheiro do passado. Enquanto refletia sobre isso e sobre a novela que esquecera de assistir, enroscou–se nas cobertas e em seguida adormeceu.

A contragosto, abriu um olho já se sentindo atrasada. Lembrava–se muito bem do aviso do gerente: “A pontualidade é a maior virtude que se pode praticar, principalmente dentro deste estabelecimento. Mais do que isso, nosso slogan e blábláblá...”.
Com raiva agarrou o preguiçoso rádio–relógio, esbarrando no girassol e fazendo–o cair no chão.
Os números brilhavam azuis: 6:59AM.
E o telefone tocou.
–A flor, te lembras? Envergonho–me de tal insistência, mas necessito dela, por favor! Se pudesse me entender, talvez você...
A moça puxou o foi da tomada. Nenhuma ligação a acordaria antes da hora no dia seguinte, pois elas não seriam recebidas. Simples assim.
Ela passou o dia nervosa. Piorou quando teve que trocar o encontro relaxante com os mortos por uma visita à avó doente no hospital. Tão entubada e quieta que a vida parecia apenas um termo médico. A moça não via razão para manter a em outros tempos tão alegre vovó naquela prisão de vida e de morte.
Ao colocar o pijama naquela fria noite, verificou mais uma vez se o telefone estava desligado. Sim, estava. Por via das dúvidas, colocou–o também em cima do armário. Apenas por precaução, claro.

Ela não costumava ter pesadelos, só quando repetia a buchada que sua mãe fazia no jantar, porém chegou a suar frio naquela noite. Por acordar durante a estranha perseguição da qual fugiu, não se lembrava de nada. Apenas arfava e sentia o coração a mil.
O telefone tocou,
A moça, tão estupefata, esperou o segundo toque para pular da cama e alcançar o telefone, que ainda repousava sobre o armário.
–Rápido, moça! Respeito sua, hm, lentidão, porém não posso mais suportar! Acorde para si mesma! Deixe de se esconder e...
Ela gritou do fundo de seu coração e desligou o telefone. Tremendo, agachou–se rente à parede e como uma criança enterrou a face nas mãos.
O girassol, tão intenso quanto no dia em que ela o recolhera, a encarava do tapete. Na penumbra, a flor brilhava tanto que parecia que o verdadeiro sol vinha dela.

Vestiu rápido um roupão e delicadamente abriu a porta: atravessaria a rua e deixaria o girassol sobre o túmulo. Era essa a única saída.
Alheia a duas senhoras apontado e fofocando sobre ela, empurrou o pesado portão e caminhou pelas ruazinhas. Encontrou o túmulo tão morto como antes, coberto pelos mesmos girassóis. Infelizmente, a moça não notou o quanto pareciam mais... mortos.
Sentou–se e acariciou a pedra fria. Estava em paz, sozinha. Fechou os olhos. Relaxou o corpo e deixou o girassol cair da mão esquerda.
Uma voz entrou por seu ouvido e uma mão pousou sobre seu ombro: era ele, Carlos, seu namorado que ela não via há muitos anos.
–Até que enfim você veio, minha flor.
Carlos, há tempos havia sido dado como morto. Porém não mais para ela.
A moça o abraçou e o beijou, enquanto uma brisa levou para longe todos os girassóis.



Partindo do início e fim de uma narrativa de Carlos Drummond de Andrade, elabore o conto seguindo orientações...

segunda-feira, abril 20, 2009

Stargirl

A lua parada no céu
Pregada como um quadro eterno na noite escura
Brilhante testemunha até o amanhecer
Iluminando minha vida e meus erros.
Dona na própria verdade
E da imortalidade das estrelas
Eu aperto com os dedos o papel
E peço a você, lua,
Que presencie interruptamente o meu sofrer
E preserve para sempre minha paixão.

terça-feira, fevereiro 17, 2009

2050? Ou Hoje?

Perdoem o texto de quatro páginas publicado no post passado. Achei-o irresistível.

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Despertou com a cabeça no lugar dos pés, o travesseiro macio longe da cabeça. Os lençóis estavam embolados no chão. Devia ter tido um pesadelo, mas não se lembrava.
Era muito cedo ainda.
Pelas duas paredes envidraçadas de seu quarto, no último andar do prédio, o 34º, ela viu a vista mais linda que existia: o sol manso e laranja nascendo no leste, ao mesmo tempo iluminando intensamente o que recebia sua luz e escurecendo demais o que ficava nas sombras; uma beleza indigna daquela data. As nuvens tinham formas abstratas, eram coloridas em tons quentes. Seringueiras fortes de quase oitenta metros de altura cercavam o prédio e suas folhas balançavam acompanhando uma brisa delicada, misturando-se como se fossem uma só. Muito além, era possível ver campos verdes e cintilantes, intocados, apesar de muito bem cuidados. Um fino riacho serpenteava perto da linha do horizonte. A profundidade das cores doía os olhos, mas não era possível parar de apreciar.
“Como puderam prever um fim de semana com neve?”
Nenhum passarinho piava.
Julia agora estava de pé, encostada com dificuldade no vidro blindado, de pé sobre as perninhas finas e brancas: tocava com os dedos ásperos a proteção fria da onde nunca teria permissão de sair. O enorme quarto, gelado, limpo e perturbador, era preenchido apenas por uma cama e uma estante com alguns livros, ao lado, uma porta que não tinha maçaneta.
Nenhuma borboleta batia as asas.
Olhou para seu reflexo quase imperceptível, o retrato de uma velha com idade de garota: uma lágrima escorreu pela bochecha espinhenta. Chorar, sem estar realmente triste, sem ter certeza da tristeza, para quê? Nunca correria naqueles campos nem escalaria aquelas árvores. Não nadaria nos rios nem respiraria o ar de fora. Era a realidade. Era a verdade. Era a certeza. Era imutável. Em todos os dias de sua vida.
Nenhuma formiga trabalhava seu trabalho de formiga.
Mas naquela data específica, ano a ano, tudo piorava um pouco para ela: a graça do mundo ficava maior, parecia acenar, sorrir e convidá-la carinhosamente para que desfrutasse-a com prazer. Tudo se tornava mais especial, mais claro, mais vivo! Tudo parecia voltar a ser o que era antes.

Em Cinco de Janeiro de 2038, uma terça-feira, às 19h34min, uma bomba atômica superior a todas as que jamais foram lançadas era preparada para ser lançada em algum país (qual ninguém se lembra) que estava em uma violenta guerra com outro (também esquecido), porém explodiu na base no meio do que era chamado o Oceano Pacífico. Um erro humano, uma falha nos cálculos, sabotagem? Nada nunca seria provado ou discutido.
Não havia sobrado nenhum ser humano ou animal que não estava dentro daquele prédio.
O que Julia sabia com clareza? “Que lá fora,”, como diziam os adultos, “não existe nada a não ser a natureza da qual nós nunca deveríamos ter evoluído e que nós nunca deveríamos ter transformado. Nosso poder incontrolável nos fez e nos desfez. Mas agora já é tarde para começar de novo. Nada mais poderá existir fora daqui. Somos o fim de nós mesmos e também o começo do que um dia fomos.”
Eles eram, sim, talvez dramáticos. Mas as palavras certas, melancólicas e verdadeiras continuavam sendo passadas de pessoa a pessoa, e estavam escritas na porta de cada quarto em letras infantis. Ao lembrá-las com atenção, Julia foi atingida por fortes memórias esquecidas, dos tempos em que ainda tinha sua mãe e seu pai, seu irmão mais velho, sua casinha no campo, sua saúde intacta, a liberdade...
-EU AINDA VOU SAIR DAQUI! EU VOU!
Batia com os punhos cerrados no vidro. Doía, mas o seu coração aprisionado doía mais. Ela gritava, chorava, chutava, soluçava; uma confusão de emoções vergonhosa e que estivera presa dentro dela desde que se conhecia por gente libertou-se quando ela vagou em seus pensamentos e deixou de lado o controle da razão. Estava sozinha? Não, tinha os outros sobreviventes. Mas continuava solitária, sem alguém que partilhasse do mesmo desejo e da mesma saudade da vida.

Quando se aquietou, uma mulher entrou em seu quarto, reclamando sobre a barulheira. Julia mal prestou atenção: mentiu que tinha caído, o que era comum. A mulher saiu, sem mais perguntas. Ninguém sabia como se importar com os outros, como era amar. Teria sido assim a vida antes?
Julia tinha um plano e estava decidida: sairia (como nunca ninguém tinha saído) daquele prédio. Acreditou em si mesma e em Deus; tinha fé, tinha coragem, tinha que viver, ou morrer tentando.
Ela resmungava enquanto descia a escada em caracol. Parava de degrau em degrau, lenta como uma tartaruga, pois não agüentava a descida: não tinha força física naquele corpo deixado de lado durante tanto tempo. Respirava ofegantemente, agarrando-se ao corrimão e à esperança.
Enfim térreo. Tinha demorado muito para chegar lá; com certeza os melhores tons do sol já deviam ter desaparecido do céu, teria sobrado apenas a luz forte, nenhuma sombra. Agora chegara a hora.
Passou-lhe pela cabeça o pessimista sentimento de que poderia simplesmente não conseguir. Alguém a impediria, a aprisionaria novamente, ‘para a sua própria segurança’, tentaria afogar seu sonho com discursos? Ou, por incrível que pareça, poderia ela se descobrir incapaz de sair, impossibilitada de encarar o desconhecido, medrosa?
Só saberia se tentasse.
Caminhou normalmente pelo corredor abandonado, inspecionando o lugar com os olhos cheios de lágrimas, tremendo. A porta que dava para fora não tinha nada de mais: era apenas velha e marrom, a madeira decorada com folhas e frutos gastos. A chave antiga, enferrujada, sempre estava na maçaneta: era só girá-la e sair; tão fácil que parecia ser algo usual! Não havia e não haveria nada para atrapalhá-la.
Ela suspirou, correu, de olhos fechados destrancou a porta e saiu.

Desabou no campo. Julia estava exausta. Ao sair do prédio, com medo de evaporar pela radiação ainda existente, tinha notado como era diferente existir fora do prédio. Experimentava cada parte de seu corpo, sentia-se plena, viva como nunca e dona de si. Conheceu novas sensações, novos cheiros, novas cores, novos pensamentos, novos sons, uma nova Julia. Não havia mais nenhum problema de saúde nela e nenhum medo, nenhuma dor.
Ela sorria pela própria liberdade e por amar de novo a vida. Riu: como o céu parecia infinito dali, tão azul!
De repente, uma minhoca saiu da terra e esticou-se ao lado dela, preguiçosa e nojenta.
Julia chorou de alegria.
Havia esperança.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

There's No Place Like London

E, novamente, ele havia a procurado. Stella sentia–se usada e insegura, sem saber ao certo em quem acreditar. “Acho que está ficando frio”, pensou, enquanto olhava pela janela e pegava–se roendo as unhas. Nunca mais tinha roído–as desde que começara a sair com aquele rapaz. Mas a falta de chão mudava suas razões e a levava a fazer coisas insensatas.

Andou pelo apartamento bagunçado procurando um casaco e verificando mais algumas vezes as trancas da porta da frente. Sentou no chão, pois ela ainda não tinha tido tempo para comprar um sofá: o apartamento, como a maioria das coisas em sua vida, continuava pela metade. Ela ligou a televisão do quarto que também era sala para distrair–se, após ajeitar as antenas do aparelho para conseguir um sinal melhor, mas a programação boba de uma quarta–feira à tarde não a interessava.

O telefone tocou. Estridente, alto, deu–lhe um susto.

–Alô!!! Alô!!! – Stella gritou ao atender. Percebeu-se nervosa, com a respiração ofegante e os batimentos cardíacos acelerados.

–Stella?

A voz conhecida lhe trouxe de volta um passado esquecido. Sua tensão fora aliviada, pelo menos um pouco, pois ela se sentiu em seu antigo lar.

–Stella, está aí?

–Sim, sim!!! – ela apertava o telefone com força. Uma tonelada de emoções embaralhava seu coração. O melhor amigo de Stella, William, estava do outro lado da linha e do outro lado do oceano, mas ainda assim ela podia senti-lo ao seu lado! Certamente as notícias tinham corrido rápido. Mas quem... ?

–Como está? – sua voz parecia preocupada.

–Bem – ela respondeu, apenas por educação.

–Fará alguma coisa hoje à noite?

Ela não compreendeu a pergunta, e não se sentiu bem pensando que ele queria brincar com ela numa hora dessas.

Olhou para as pernas num jeans velho: aquele era o jeans que ele mais gostava; teria lhe espantado o azar? Enrolou o fio do fone nos dedos e mordeu o lábio inferior.
–Para quê quer saber?

–Estou em Londres, Stella!

Aquelas palavras rápidas a acordaram do pesadelo. Com William por perto, não haveria problema. Pois ele era o seu amuleto mágico, sua fonte de sorte; desde que ele se mudara para Nova Iorque, nada tinha dado certo para Stella.

Marcaram em uma lanchonete aonde os dois iam quando seus pais ainda eram amigos. Ela chegou cedo e arranjou uma mesa nos fundos, num canto romântico. Observava os casais de todas as idades e se perguntava se algum dia teria sua felicidade plena.

Um minuto se passou. Stella enrolava o cabelo nos dedos e se questionava: tinha ficado liso demais?, daria a parecer que ela só se preocupava com chapinha?, ele pensaria que acontecera nela uma mudança de personalidade? Ou gostaria de garotas de cabelo liso?

–Stella?

William a surpreendeu por trás; continuava lindo, mas o tempo tinha feito tão bem à sua agora amadurecida beleza... Carregava um buquê de flores cheirosas. Usava roupas despojadas, com cara de usadas. Usava um novo piercing na sobrancelha, além do no nariz.

Stella pulou de sua cadeira e o envolveu num forte abraço. Sentir de novo o cheiro da William a deixou tonta de desejo. Nesse abraço estavam escondidas várias emoções: medo, angústia, segurança, felicidade, carinho (pela parte dela, até demais). Ele a afastou para olhá–la, próxima talvez demais dos lábios dele. Stella segurou firmemente as lágrimas que a pinicavam enquanto olhava nos olhos castanhos e profundos dele: tinha demorado horas com o lápis de olho e gostado razoavelmente do resultado esfumaçado.

–Você cresceu demais – ele riu.

Ela, no alto de seus 26 anos, não tinha crescido nada desde a última vez em que o tinha visto. Ele, que completaria 21 no próximo mês, tinha crescido muito em Nova Iorque.

Os dois se sentaram e Stella disparou a falar, deixando vazar todas as dúvidas que tinha quanto a ele:

–Por que veio, sem avisar, Will? Onde está hospedado? Desde quando está aqui? Até quando ficará? Quem o chamou? Precisa de alguma coisa? Como está? Falta algum dinheiro? E seus pais? E os estudos? Como foi nesses anos? Está gostando? Conheceu gente nova? Lugares novos? Está feliz?

Ele respirou fundo e colocou sua mão sobre a dela. Aquilo causou nos dois um estranho formigamento, uma sensação de proximidade que estivera longe. Ele suspirou:

–Me ligaram. Na verdade, sua vizinha. Ela disse que não sabia de outros amigos seus e que já tinha ouvido falar de mim. – Stella encabulou–se e baixou os olhos: por que foi tão fofoqueira a ponto de contar de William para sua vizinha coreana? Ele ergueu o rosto cheio de pintas dela com os dedos macios da outra mão e procurou novamente seus olhos verdes.

–Não ache que eu também não falei de você.

Seguiu–se uma noite calma (diferente dos últimos dias que Stella tinha vivido), onde os dois conversaram, reataram a cumplicidade, beberam algum vinho e sorriram muito. Ela abria, sem perceber, seu coração endurecido pela solidão. Estranhava o calor humano e poder depositar novamente tanta confiança em alguém.

Só voltou à realidade quando ele lhe deu um abraço de despedida, em frente ao velho prédio dela. Ela agarrou a jaqueta de William e disse em sua voz mais sensual possível (o que, para ela, foi ridículo; parecia uma vagabunda loira de novela):

–Fique.

A lua brilhava sobre eles, poucos carros passavam na rua. Ele pensou longamente, olhando o céu. Por fim disse, com grande esforço:

–Fico. Mas não durmo com você, Stella. – pausou por alguns segundos, estudando a reação dela, e então prosseguiu – Nada pessoal.

Isso a atingiu. Ela não tinha admitido para si mesma, mas sempre esteve apaixonada por ele. Ela tentou negar, mas era aquilo que queria desde que descobrira que ele estava em Londres: ele, e só ele. E agora, William a recusava, o pior de tudo, educadamente.

Subindo as escadas, ela pensava em como podia despertar nele uma paixão súbita, uma vontade incontrolável. Seu arsenal de armas para conquista era fraco e tinha se mostrado pouco eficaz nos últimos dias.

Arrumou silenciosamente um colchão na sala que fazia de quarto, ao lado da cama dela, angustiada por não ter o que desejava ao menos uma vez na vida. Despiu–se no único e minúsculo banheiro: tinha colocado, por intuição, belas roupas, uma minissaia e uma blusa preta decotada, com botas de couro que a deixavam mais alta ainda; mas ele pareceu não se encantar e nem perceber direito seu corpo de mulher. Após colocar uma camisola azul, largou–se cansada em sua cama onde dois caberiam perfeitamente: dali o observava escovando os dentes na pia da cozinha, sem camisa. Não havia esperança.

A noite foi complicada: ela tardou a dormir, enquanto ele adormeceu em apenas alguns instantes. Ela sentia vontade de deitar com ele e sentir seu corpo quente e calmo, mesmo que nada acontecesse entre eles. Só de ouvir a respiração de William, já se arrepiava.

Na manhã seguinte, a primeira coisa que viu quando acordou foi o cano de uma pistola apontado para sua cabeça. Um forte homem de terno e óculos escuros segurava a arma e prendia William numa chave de braço. Seu amigo estava horrorizado e amedrontado.

“Veio enfim acertar as contas? Quer meu sangue? Ou a encomenda para sua mamãezinha?”, Stella borbulhava de raiva, queria expulsar aquele cara a gritos, tapar os olhos de William e dizer que aquilo tinha sido apenas uma ilusão... A ira lhe dava lágrimas nos olhos e fazia suas mãos cerrarem-se “Não tinha hora pior para vir?”.

–Terceira gaveta – ela disse, numa voz calma e paciente, porém pesada.

O homem tirou da gaveta, entre as roupas, uma caixa marrom. Largou William e o chutou. Sorriu um sorriso malicioso e desejou bom–dia hipocritamente. Antes de bater a porta da frente, gritou, entre os risos:

-É um prazer fazer negócio com a senhorita!

Stella aguardou silenciosamente, envergonhada. Quando ouviu os passos descendo a escada, deu um longo suspiro.

–Como?! – William tentou puxar fôlego, mas estava fora de si. Não conseguia ficar de pé sobre as próprias pernas, de modo que caía e levantava seguidamente, batendo nas paredes e móveis. – Daonde surgiu aquele cara?! Putamerda!! – passava as mãos pela cabeça. Firmou–se ao juntar os fatos em sua mente, perturbado. A olhou com força. – Então é verdade?

Ela cruzou as pernas finas, tirando o lençol que a cobria e jogando–o no chão delicadamente. Sua cara estava séria e fechada, ainda assim inocente. O olhar mirava as unhas feitas dos pés. William estava incrédulo.

Apesar do choque, ele se deu conta da imutável fragilidade de sua amiga e sentiu pena dela. Como o amigo que sempre tinha sido, esperou sua cabeça esfriar, e então se sentou na ponta da cama e a observou: seus cabelos ruivos–quase–castanhos eram longos e pareciam excessivamente desarrumados. Algo em seu rosto era sempre engraçado, mas estando com ela e sabendo de seus problemas, quase não havia motivo para rir. Ele se aproximou lentamente, testando suas reações, até estar perto o suficiente para beijar-lhe a bochecha; mas Stella foi mais rápida. Puxando um antigo revólver da fronha do travesseiro, encostou–o no peito nu de William, paralisando–o.

–Melhor colaborar, amigo... – ela lhe disse, fria como gelo, ao pé da orelha. Não parecia nervosa, mas sim decidida. – Senão... – ela pegou a mão direita dele com a sua esquerda e fez com que ele passasse o próprio indicador horizontalmente no pescoço dela; sua pele estava gelada.
O empurrou delicadamente para que pudessem se olhar nos olhos e William viu na cara dela uma angústia profunda. Apesar disso, ela manteve o contato da arma com a pele dele: não o largaria tão facilmente assim, ele achava.

Ele tinha sido alertado diversas vezes de que não era bom tentar conversar com alguém que portasse uma arma. Mas, estando sozinho com Stella, a pessoa que mais amava no mundo (teve que admitir), naquele pequeno apartamento em Londres, olhando–a tão fundo nos olhos... Não se sentiu em perigo algum.

Stella olhou–o com raiva (suas expressões eram sempre bem nítidas). Antes que pudesse começar, ela raciocinou, rapidamente:

–Não tenho o que explicar. Você já deve saber pelo menos do resumo da história. A princípio, não lhe devo esclarecimentos desnecessários. Espero que você seja inteligente o suficiente para tirar suas próprias conclusões e, claro, não contar para mais ninguém. – suspirou e refletiu, com apenas os olhos tristes:

– Não devia ter se metido nisso, William.

Ele fechou os olhos, esperando que ela atirasse. Não sentiria tanta dor assim. Achava-se então mais louco do que ela. Rezou um pouco, coisa que não fazia há anos.

–Não, não vou te matar. – ela colocou o revólver no colchão e as mãos sobre a cabeça. – Não posso e nem quero te matar agora, William. Você sabe, – ela passou os dedos pelo cabelo e o olhou com dúvidas – ... eu te amo.

William não se surpreendeu. Apenas pensou, “explicarei isso à Helen (sua então namorada) quando voltar. Ela vai entender, e, se tiver sorte, vai enfim achar o cara certo para ela. Ela sim merece isso.”.

Já estava anoitecendo quando William acordou. Ainda tinha sono, mas precisava sair antes que Stella despertasse. Vestiu–se e olhou pela última vez o rosto angelical de sua amiga, coberta apenas pelo lençol. Quis deixar um bilhete para que ela depois acreditasse que aquilo não tinha sido um sonho (porém nem ele conseguia crer com toda a certeza no que os dois tinham feito! E como tinha sido bom!), mas preferiu que ela tivesse apenas lembranças: nada que pudesse ter sua marca, seu toque. Cogitou em levar as balas do revólver, porém escolheu deixá–las ali, para qualquer situação em que Stella precisasse.

Sua felicidade era esmagada pela falta que ela lhe faria.

Confiava nela, e mais do que tudo, a amava demais. Mas foi embora, e a deixou para sempre.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Árvores

Terminei, com lágrimas nos olhos, de escrever aquela pesada carta a você, no escritório iluminado e abafado. Olhei o céu por uma fresta na janela coberta com grossas cortinas: estava índigo, um tom de azul diferente, e as nuvens roxas; não havia anoitecido completamente, de modo que o sol se punha grandiosamente no oeste. Eu imaginava não encontrar nenhuma estrela no céu.

Desci as escadas em frente à porta da cozinha devagar, estudando cada degrau. Dois cãezinhos me esperavam loucamente atrás de um portão no meio da escada que os impedia de subir e entrar. Fechei-o quando passei, sentei no chão, contemplando a noite quente, o ar limpo, o vento forte batendo em meu rosto cansado; sentia-me na praia novamente, olhando o infinito e não conseguindo distinguir céu de mar. Os dois filhotes pulavam insistentemente e mordiam os botões da minha blusa. Precisavam de um banho, mas eu não me incomodava com seu cheiro. Tentei aninha-los em meu colo, mas seu crescimento absurdamente rápido não permitiu que os dois se ajeitassem confortavelmente ao mesmo tempo. Decidi andar pelo jardim.

O gramado denso e verde, que escondia milhares de insetinhos e outros animais nada agradáveis, estava bem escuro; nenhuma luz estava acesa e eu não pretendia clarear aquela noite tão agradável; pois por mais que houvesse algo que pudesse me amedrontar no meio do mato, eu não sentiria medo, afinal, não o veria!

Escalei devagar a árvore enorme que se apoiava no muro branco. Subindo um centímetro de cada vez, sem pressa, descobri como meus braços tinham ficado fortes e que agora sustentavam o peso do eu corpo sem o menor problema. Eu ainda não aparentava ter esses músculos, mas daqui para frente os exercitaria cada vez mais.

Eu esperei longos meses pela primavera; e agora que ela chegou, não sei descrever como é estar no meio da copa de uma árvore toda florida, tão cheia de folhas que não se enxerga o céu. Eu não alcançava nenhuma flor, o que só me fazia quer ir mais e mais alto.

Não percebi o quanto estava longe do chão. De repente dei de cara com um galho onde tinha amarrado uma fita colorida, indicando o lugar mais alto onde eu me atrevi a subir. Senti vontade de passá-la e amarrar algo novo num ponto mais elevado, delimitar um novo fim para a minha loucura, mas os galhos finos não suportariam meu peso de jeito nenhum. Arrisquei um olhar para baixo, e graças ao escuro quase total, não percebi o quanto estava realmente alto. Não tenho muita noção de espaço, mas acho que estava a uns seis metros do chão, mais ou menos.

Desci devagar, aproveitando o sossego, após vários minutos sentada sozinha ali em cima, e percebi com uma das melhores sensações do mundo que meus pés já conheciam o caminho: descansavam nos galhos certos, testavam sempre as reentrâncias infiéis do tronco, trocavam-se num piscar de olhos para que eu achasse apoios... Eu não sentia mais nojo da árvore, ou dos insetos que corriam por ela ou a faziam de casa, nem da fina camada verde que a cobria. Antes, eu usava grossas luvas de jardinagem, mas o que mais quero agora é senti-la.

Larguei-me no chão escuro. É, eu ainda tenho muito medo de altura, mas sei que aquela árvore não vai me deixar cair nunca. Por isso não dou ouvidos aos meus receios quando tenho em quem confiar...

sexta-feira, janeiro 30, 2009

Lembranças

Doutor olhava os papéis apressadamente. Corria os olhos e os empilhava em montes altos, que serviam como sua fortaleza, para que soubesse o que fazer depois. Sua secretária chegava a todo o momento, trazendo nos braços outras pilhas de papéis e pastas transbordando de notícias e estudos. Despejava-os em sua mesa, cuidadosamente, para que não escorregassem e sua ordem meticulosamente estabelecida não fosse alterada. A longa mesa de Doutor estava cheia, mas cada vez mais informação chegava.
-Lílian, vá tomar um café. – ele ajeitou os óculos fracos sobre o nariz e suspirou devagar para que nenhum papel voasse. Ela olhou esbugalhada para ele, surpresa, mas aceitou. Saiu da sala com passos fortes, apressados, estabanados. Tinha trinta, quarenta anos no máximo, mas vários fios brancos se misturavam ao cabelo ruivo preso num rabo de cavalo. Não era atraente, pelo menos não para ele, mas também não precisava ser. Era simpática, o que já era o suficiente. Ele a ouviu ligar a barulhenta cafeteira e abrir o armário para pegar um coador e uma caneca.
-Um para o senhor também?
-Não, querida.
Olhou desanimado para os incontáveis documentos. Sua inabalável paciência se desfazia naquela tarde sem graça. Apertando um botão do controle remoto que tirara de sua gaveta, fechou as janelas de seu escritório no primeiro andar automaticamente e ligou as luzes. Nenhum pedestre ou carro na rua o atrapalharia. Ficaria sozinho para este trabalho infinito.
Doutor examinava mortes peculiares ao redor do mundo, daquelas sem razão ou motivo, que apenas faziam o coração das pessoas parar de bater para sempre. Sem dúvida você pode não acreditar, mas este trabalho realmente existe. Na verdade, uma morte assim pode acontecer com qualquer um, eu ou você, subitamente, não importando a saúde, idade, raça, credo, time ou para qual hospital se é levado. Casos assim não aparecem em jornais e não são noticiados, apenas pessoas realmente próximas ficam sabendo que a morte foi deste infeliz modo. São raros, mas nunca se pode prever um.
Ele era um médico respeitadíssimo no ramo. Estudava muito, absorvia qualquer conhecimento possível, pesquisava sobre tudo, mantinha contato com outros poucos médicos dessa especialidade diariamente para trocar informações.
Doutor passava seis dias por semana, onze horas por dia, lendo depoimentos de médicos e testemunhas, estudando os hábitos dos defuntos, comentando, e por fim enviando o resultado aos parentes ou amigos do falecido para que o caso fosse solucionado. Falava seis línguas fluentemente, mas às vezes chamava um tradutor, pois chegavam a ele ocorrências de todo o mundo. Normalmente, uma carta era novamente enviada, com mais dúvidas dos conhecidos do morto. Ele respondia todas, sem exceção, e a correspondência costumava se prolongar por meses. Sentia-se como um psicólogo, explicando a morte várias vezes, ouvindo tristezas e consolando desconhecidos.
Aquele era mais um dia entre milhares. Mais um dia onde descobria algumas artimanhas da morte e ainda assim duvidava de sua força inexplicável sobre a vida. Nunca se arrependeu do dia em que escolheu sua profissão, mas hoje achava que seria melhor como pediatra; vendo a vida que acabou de começar todos os dias!
Tinha mandado Lílian deixá-lo em paz, pois queria analisar um caso que lhe tirava o sono há tempos. Era o de uma garota americana que tinha o coração parado, mas que ainda vivia!
Ela, que se chamava Charlotte, morava numa pequena cidade do interior dos Estados Unidos e era uma adolescente pacata. Numa noite estrelada, há alguns meses, estava em casa sozinha; os pais tinham saído para um jantar na casa de familiares. Pelo que tinha contado aos médicos que a atenderam, ficou o tempo todo lembrando de um amor. Apenas isso. Seu depoimento era tocante e simples. Contava sobre o tempo que passou junto com seu namorado, de cada conversa que tinha tido, de cada beijo que deram, de cada passeio que fizeram, de cada ciúme que sentiram, de cada carinho que ele lhe fez, de cada eu te amo que os dois disseram... A paixão entre os dois não tinha terminado, mas há muito tempo ela não o via pessoalmente. Ele morava longe.
Quando seus pais chegaram, notaram a estranha palidez da menina e seu cansaço. Ela desmaiou no sofá e quando seu pai verificou seu pulso, não sentiu nada. Levaram-na para o hospital, onde foi dada como morta. Sua mãe estava inconsolável no corredor, abraçando seu marido. Quando mencionou o nome do namorado de sua filha, aos prantos, Charlotte acordou, levantou da cama de hospital e caminhou até sua mãe.
Seu coração não bateu mais desde então.
Charlotte continuava com aspecto de morta: não dormia, não comia, mas ainda assim andava, conversava e, principalmente, ainda lembrava e muito de seu amor. Quando as lembranças eram fortes e verdadeiras demais, enfraquecia-se cada vez mais, a ponto de desmaiar de vez em quando; mas ela não morria.
Ao ler aquela história novamente, ele parou seu trabalho, olhou o infinito, lembrou-se de Rita... ‘E esta dor do lado esquerdo do peito, me tira o fôlego, não passa de jeito nenhum, será que é grave?’, pensou preocupado, passando a mão pelos cabelos que ficavam cada vez mais ralos e brancos. Rita, Rita...
Lílian entrou na sala com a caneca fumegante ainda nos lábios. Deixou-a cair e espatifar-se quando viu Doutor caído no chão, olhos virados e boca aberta. Tremendo, virou-o rapidamente de barriga para cima e verificou seu coração. Nada. Não adiantou chamar uma ambulância. Seu corpo foi cremado no mesmo dia, no fim da tarde.
Doutor também teve seu coração parado para sempre por lembranças... Mas ele já era velho, não agüentaria viver morto como Charlotte, e suas lembranças sobre Rita eram muito mais dolorosas... Rita, Rita...

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Promessa

Alma morta, sem futuro
Presa num corpo que queima
Amarrada a fé excessiva
Com pensamentos imprevisíveis

Desejando o que está à frente de seu tempo
Engole palavras ilegíveis
Forçada ao normal
Essa alma só quer ficar só

Esvaziou a mente,
Perdeu o brilho dos olhos
Adaptou a realidade à verdade
E não compreendeu depois

A dor corre dessa alma
Sente medo de seu sorriso vazio
O vento é seu amigo
Quando sopra as sombras pra longe

Colocou em seus pensamentos
O controle que é tão amargo
Viu no branco o amarelo
Por pisar nas teias de aranha

O ritmo da dança das estrelas
Aflige qualquer um
Faça os fantasmas te carregarem
Para brilhar ao lado da lua

O medo é tão mitificado
Quando na verdade é tão simples
Você suplica pelo silêncio
E nem respira mais

Um minuto ou dois na loucura
Deixa-nos tão humanos
Agarre a corda que te prende
Aos últimos suspiros do amor

domingo, janeiro 18, 2009

Chuva e Verde e Azul

Chovia, não forte o suficiente para ela não se arriscar. Manteve o iPod ligado, colocou um boné na cabeça e passou o fio dos fones por dentro da blusa. Seu rosto estava calmo; por dentro, um mar de ansiedade e nervosismo, uma vontade imensa de falar com ele. Ela abriu a porta e saiu; ninguém em casa reclamou ou tirou os olhos da televisão.
Saiu da garagem, andou pela grama. Tinha se esquecido de como era andar na chuva e sentir os pingos batendo nas costas. Sentia a grama molhar os pés e como a terra estava fofa de água. Tinha cuidado em não pisar em nada que se assemelhasse a um presentinho deixado por seu cachorro.
Contornou a casa e encarou a parede lateral; duas lagartixas brancas a escalavam lentamente. Ela bateu palmas e as duas subiram e se esconderam no telhado.
A cor da grama misturada com a cor do céu naquele momento era exatamente a cor dos olhos dele à noite. Ou não? Ele negava rindo quando ela lhe dizia que os olhos dele não eram apenas de uma cor; ele dizia que eram verdes e pronto. Mas ela enxergava mais, via outras cores, outros caminhos, outros mundos quando encarava os olhos dele de perto.
Os dois tornozelos dela coçavam; isso vinha acontecendo há algum tempo. Era como um alerta para parar de pensar tanto nele: começava em seus tornozelos, como os arrepios que ele causava nela.

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Ele me fez viajar tanto, por causa dele eu deixei tudo de lado, por causa dele eu fiz tudo ao contrário... E não, isso não é música nem nada, é a pura verdade...

quinta-feira, janeiro 08, 2009

Amor?

Hoje, se me pedissem para contar realmente o que é o amor, eu diria algo com gosto de final de filme romântico, onde tudo dá certo e fica assim pela eternidade.
Como a eternidade real não passa de um segundo ou dois, eu teria que atualizar minha definição o tempo inteiro, porque não sei como acaba o amor. Posso ter visto muitos amores acabarem, mas não entendi por qual motivo, e não acho que devo escrever sobre [algo que não desejo para nenhum apaixonado] isso agora.

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Vou viajar. Não sei até quando, mas sei que não haverá nenhum computador lá. 'Espere nos ver quando nos ver.'

segunda-feira, janeiro 05, 2009

7+7, 6+8, 9+5, 13+1

Minha tradição é criar um texto para o meu aniversário, um romance, crônica ou poesia que me satisfaça e que eu possa me dar como presente. Para fechar com chave de ouro os meus 13 anos (2008 foi um ano inesquecível em todos os sentidos), nada melhor do que eu mesma:

Se penso em minha mente, em como é minha cabeça por dentro, o que imagino? A princípio, um nada, um branco de propaganda de sabão em pó infinito. Olhando com mais atenção, eu vejo a verdade, e é um tremendo choque olhá-la. Uma precipitação atmosférica (ou chuva) torrencial de informação está ali, e levam-se alguns segundos para se acostumar a esta visão.
São duas partes separadas, totalmente diferentes. A da direita é uma praia calma ao final da tarde, a da esquerda um lugar animado, talvez uma balada, ou um lugar com muita gente e muito colorido. Eu estou dividida entre esses lugares: do lado direito visto meu jeans dobrado para fora, meu All Star clássico e uma pólo preta; do lado esquerdo visto uma minissaia jeans cinza, uma pólo coloridíssima e uma sandália de salto. Do lado esquerdo ouço no máximo Aerosmtih, The Rolling Stones, Queen, Madonna, AC/DC, Kiss... Do lado direito ouço baixinho Pink Floyd, Amy Winehouse, Elton John, Supertramp, David Bowie, Eric Clapton.... Em ambos os lados, meu cabelo está legal (sabe como, da cor que é) e minha medalha do exército pendurada no pescoço. Nem sempre estou com as mesmas pessoas, com o mesmo jeito, com os mesmo pensamentos, com o mesmo rumo, com a mesma vontade, com o mesmo por que, nem sempre igual. Mas sempre eu.

Explicação ‘complicada’ (péssima!), cheia de interpretações, que só confunde ainda mais a cabeça do inocente leitor. Talvez porque eu deixei muito com a minha cara. O que quero dizer é que, apesar de ser feita de dois extremos tão diferentes (ou não), eu junto os dois numa só pessoa, numa só cabeça, numa só mente. O que resulta disso, eu conheço melhor do que ninguém. Orgulho-me de andar por aí sendo esse resultado.

Um dia desses, fiz um desenho tosco, para passar o tempo, num jogo americano de papel numa lanchonete qualquer. Estava totalmente esfomeada, esperando meu hambúrguer de picanha e despistando a gula com suco de laranja. O desenho não tem sentido, é mal-feito, impensado... Mas até que ponto?
Olhando melhor, é a minha mente no papel (!). É totalmente lógico, seguindo um padrão, de duas cores, de dois jeitos, parece ser um rabisco mas é uma obra de arte, independente do mundo ao seu redor e também baseado nele, com falhas corriqueiras que só o atrapalham se o crítico não tiver paciência de ver, ao mesmo tempo perfeito e imperfeito... 2 em 1... Um paradoxo irresistível...



Desenhei também meu famoso jacaré (para ver a versão 2008 e entender o significado do jacaré, vá ao primeiro post de Janeiro de 2008), sem dúvida é ele o meu amuleto desse ano!