domingo, setembro 29, 2019

Em outridade

Tem aquele, o outro. Aquele outro que está em todos os sonhos, os arrepios e os olhares errados. Putz, é bom, mas tem algo de desconfortável.

Não importa o fato de que, quando ele abre a boca perto de mim, ele se torna muito menos interessante e cheio de buracos. Ele de verdade, apesar dos meus esforços, seria insuficiente para qualquer coisa que não me emprenhar de imaginações impuras com o seu cheiro, as suas mãos e o seu sorriso. E essa não é uma questão de sexo propriamente dito, mas de poder que eu exerço sobre mim mesma (nenhum), sobre os outros (testando limites) e sobre essa narrativa louca que eu criei. Dou corda para essa coisa aparentemente impossível e vou quebrando meus próprios acordos, como eu já fiz outra, e outra vez – e tive motivos para entrar em guerra comigo mesma para não atirar em ninguém. Preferi sair brigada com o meu reflexo do que perder meus pilares, arrependida do sim que era não – e que pouco deixei respirar.

Isso é sujo? É errado? Então por que me dá tanto prazer e eu insisto em pensar? Por que essas ideias batem na minha porta e eu insisto em atender, contra tudo que eu imaginava? Ou assumo que é um desvio de programação, no qual eu vou insistir porque sim – porque me instiga –, ou me censuro com menos ódio. Vou tentar fingir que não fui eu que cheguei às últimas consequências, ao último centímetro do abismo, e até dei risada do que vi.

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