segunda-feira, agosto 25, 2008

Céus

A menina reclamava aos céus:
-Me falta algo!
Sentada, bem sozinha, num banco de parque. O sol do meio dia não esquentava, ela usava uma malha de lã. Velhinhas com cachorros caminhavam, mas não estavam perto o suficiente para ouvi-la. Pelo menos, esperava a menina, elas não ouvem muito bem. Continuou:
-Aquele canalha... Me roubou tempo... Acreditei tanto naquela bobagem que ele dizia ser amor que sinto que ele voltará, dizendo que me ama mais e mais!
Olhou para o céu. Desviou o olhar, contemplando uma fila de formigas:
-Por que ele fez isso... comigo? Por que alguém faz isso? Será que traz uma sensação boa? Por isso, será, que eles não amam? Essa sensação seria melhor que o amor? Mais forte que a dor de mentir?
Sentiu raiva. Tristeza, dor, culpa, e sede também:
-Se eu sou forte, esperta e boa como dizem, por que não posso me reerguer? É normal se sentir presa ao chão, como uma árvore? Sem coração, sem sentimentos... como uma árvore?
A lágrima rolou, o nó na garganta (tão conhecido) voltou. As velhinhas e seus cachorros chegavam perto. Enxugou aquela fugitiva, pôs-se de pé, a caminhar:
-Isso é comum? Esse sentimento perda & ganho ao mesmo tempo? Perda de um amor, perda de tempo, perda de vontade, perda de chão, ganho de... liberdade, e... experiência?
Pensou um pouco. As velhinhas e seus cachorros tinham se afastado bem:
-Eu não quero experiência. Eu só quero um amor perfeito.
Sentou-se debaixo de uma árvore. Pensou um pouco mais:
-Que não esqueça o meu aniversário.
Chorou o que mais tinha para chorar.

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Talvez você ache que essa menina é boba, fraca, que só se preocupa com o próprio umbigo, sem entender a dura realidade. Ou talvez mais uma de nós, solteirona, encalhada, que cai na rede desses tipos que nos prometem mundos e fundos, amores sem dores, mas mostram os chifres de capeta quando começam a sair com outra.
Nunca fiz parte desse grupo de garotas desamparadas (e prefiro continuar assim), mas acho que consegui a essência que faz uma história infelizmente considerada por nós cotidiana ficar legal. Podia ter ficado estúpida se a menina fosse estúpida, mas ela pensou nos mesmos pontos que eu pensaria. Não ficou firme nos calcanhares, mas não se desesperou; apenas pensou.

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